De acordo com a SAP, 67 reeducandos foram aprovados no Enem PPL nas unidades prisionais da região em 2023. Entenda como funciona o exame. Presídio de Piracicaba oferece oficina de leitura para reintegrar detentos
Divulgação/CDP de Piracicaba
O número de detentos aprovados no último Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL), realizado em 2023, aumentou em até 90% nas unidades prisionais de Piracicaba (SP) e Limeira (SP) quando comparado aos resultados das últimas edições da prova.
Os dados foram divulgados pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) a pedido do g1 nesta sexta-feira (9). – 👇Entenda mais, abaixo, como funcionam os critérios de avaliação do exame.
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De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária, 67 reeducandos foram aprovados no Enem PPL nas unidades prisionais da região, sendo 50 detentos em Limeira e 17 em Piracicaba. Em 2021, por exemplo, o número total de detentos que atingiram nota exigida para a inscrição na disputa por vagas no Ensino Superior foi de 35 presos. A marca representa aumento de 90% em relação ao número de aprovados.
O g1 conversou com a pesquisadora em educação prisional, Jussara Jussara Rosolen. A especialista ressalta o papel essencial da formação acadêmica no processo de ressocialização e transformação das pessoas privadas de liberdade, especialmente quando atinge o ensino superior.
“Não existe ressocialização sem educação”. […] Não há inclusão verdadeira sem a oportunidade de se reeducar, voltar a ter o sentimento de pertencimento em sua comunidade. O reeducando tem a oportunidade e o direito de escolha para retornar à sociedade por meio da educação e de melhores oportunidades de trabalho”, reforça.
Edições anteriores
A Secretaria de Administração penitenciária informa que, em 2020, nove reeducandos de Piracicaba e 33 de Limeira tiraram notas igual ou maior que 450 em cada uma das áreas de conhecimento e não tiraram nota zero na redação do Enem PPL. Em 2021, foram 3 e 32, respectivamente e em 2022, 11 em Piracicaba e 52 em Limeira.
“Até o momento, não há informações sobre o acesso ao Ensino Superior por parte desses reeducandos através do Sisu ou Prouni, os quais requerem procuração”, aponta a SAP.
A autorização é concedida por meio de decisão judicial, possibilitando ao preso do regime semiaberto frequentar as aulas no ensino superior, momento em que a unidade prisional provê as condições necessárias para essa oportunidade.
Reeducandos Aprovados no Enem PPL na região de Piracicaba
Entenda como funciona o Enem PPL
A aprovação no Enem ocorre a partir dos seguintes critérios: nota final acima de 450 pontos e não zerar na redação. Essas condições são os requisitos mínimos adotados pelo Programa Universidade Para Todos (Prouni) e Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) para a inscrição na disputa por vagas no Ensino Superior.
No caso do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), apesar de não determinar nota mínima no Enem, é exigida uma pontuação maior que zero na redação e, boa parte das instituições aderentes estipula notas superiores aos 450 pontos para disputar alguma vaga.
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o nível de dificuldade do Enem PPL é o mesmo do exame regular.
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Como é o exame?
Embora seja uma prova direcionada a esse público-alvo, o Enem PPL cobra o mesmo conteúdo que o Enem regular exige de todos os estudantes que já terminaram o ensino médio, tendo o mesmo grau de dificuldade.
O Enem PPL é formado por quatro provas que totalizam 180 questões objetivas de Linguagens e Códigos, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Matemática. Além disso, os candidatos fazem uma redação em língua portuguesa, geralmente como tema diferente da aplicação regular.
A avaliação promove o acesso à universidade e também contribui para análise da educação como um todo.
São dois dias de provas
1º dia: as pessoas privadas de liberdade respondem as questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias, além de escrever a redação
2º dia: já no segundo dia, os PPLs respondem questões de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias.
Detentos encaram fazer o Enem como uma oportunidade de mudar de vida
SAP/Divulgação
Impactos positivos da educação prisional
A pedagoga, mestre pela Universidade Federal de São Carlos (UFscar) e doutoranda em Educação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Jussara Rosolen, enfatiza que a educação superior desempenha um papel crucial na ressocialização de reeducandos, proporcionando benefícios significativos para a reintegração social.
A especialista elenca alguns pontos principais de reflexão a respeito do tema.
Em sua pesquisa de mestrado sobre educação prisional, destaca que a educação superior dos reeducandos no desenvolvimento de habilidades visando mais chances de conseguir recolocação profissional quando em liberdade; além de contribuir com o menores índices de reincidência em delitos e também com a quebra do ciclo de criminalidade.
Desenvolvimento de Habilidades: “A educação superior equipa os reeducandos com habilidades acadêmicas e profissionais, aumentando suas chances de empregabilidade após a liberação”, aponta
Redução da Recidiva: “Estudos indicam que a participação em programas educacionais durante o cumprimento da pena está associada a taxas mais baixas de reincidência criminal, evidenciando o impacto positivo da educação na prevenção de novos delitos”, acrescenta.
Empoderamento Individual: “A educação superior promove o empoderamento individual, fornecendo aos reeducandos ferramentas para quebrar o ciclo da criminalidade, transformando suas vidas de maneira significativa”, reforça.
Integração Social: “A obtenção de um diploma de ensino superior facilita a reintegração e reforça o sentimento de pertencimento dos reeducandos na sociedade, assim como indivíduos contribuintes, por meio do trabalho, reduzindo estigmas e promovendo uma imagem mais positiva”, conclui Jussara.
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