Dois candidatos com o mesmo número de acertos podem ter notas diferentes. Modelo matemático busca priorizar coerência no desempenho dos estudantes. Enem é corrigido pela Teoria de Resposta ao Item (TRI)
g1
Maria e João acertaram, no primeiro dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024, 65 questões cada.
No entanto, quando os resultados oficiais foram divulgados nesta segunda-feira (13), eles se surpreenderam: as notas eram diferentes, apesar do mesmo número de respostas corretas. Isso acontece por causa do modelo matemático pelo qual o exame é corrigido: Teoria de Resposta ao Item (TRI).
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Explicando de forma simplificada, é um método que busca priorizar a coerência no desempenho dos candidatos. Se alguém acerta as questões mais difíceis, mas erra aquelas consideradas fáceis, provavelmente “chutou” as respostas. Por isso, terá uma nota inferior à de um estudante que acertou as fáceis, mas errou as mais complexas.
“Diferentemente da teoria clássica, em que só é considerado o número de acertos, a TRI tenta descobrir quem está realmente preparado para a prova”, explica Daniel Perry, diretor do Anglo Vestibulares. “O objetivo principal é identificar a consistência nas respostas e beneficiar quem estudou.”
A prova é preparada com perguntas pré-classificadas como fáceis, médias e difíceis. “O esperado é que o candidato tenha um desempenho melhor nas mais simples. A TRI faz uma análise estatística, ‘antichute’, para calcular uma nota final que indique se houve coerência nas respostas”, afirma João Pitoscio Filho, coordenador de química do Grupo Etapa.
📝 O diretor do Anglo dá um exemplo didático:
supondo que haja, no Enem, uma questão sobre quanto é 3 vezes 2.
O candidato erra e responde 5, em vez de 6.
Outra pergunta pede que o aluno calcule a área de retângulo cuja base meça 3 e a altura, 2. Ele responde corretamente: 6.
Pela TRI, mesmo acertando a pergunta mais difícil, faria menos pontos. Isso porque, se ele não conseguiu efetuar a multiplicação da primeira questão, não teria como saber a resposta da segunda. Ou seja: provavelmente, “chutou” a resposta.
🤔Para que existe a TRI?
A TRI apresenta as seguintes vantagens em relação ao método clássico de correção:
ao detectar os famosos “chutes”, ele premia o aluno que, de fato, se preparou para a prova;
possibilita a comparação entre candidatos que tenham feito diferentes edições do exame;
torna mais improvável que dois concorrentes tirem exatamente a mesma nota – já que o resultado final é divulgado com uma casa decimal (816,4 pontos, por exemplo).
✅Como se dar bem com a TRI?
Uma tática é começar pelas questões que pareçam mais fáceis para o candidato. “No início, ele vai estar mais descansado e poderá garantir o acerto dessas perguntas que demandam menos esforço. O risco de errar diminui. Depois, pode partir para as mais trabalhosas”, sugere Pitoscio.
Mas é claro que cada um deve encontrar sua melhor forma de administrar o tempo da prova. O importante é entender que, ao “chutar” uma resposta, o aluno não perde pontos – apenas deixa de ganhá-los.
📈 Por que a nota da prova não vai de 0 a 1.000?
No Enem 2024, a nota máxima na prova de Linguagens foi 796,0 e a mínima, 294,0.
Ou seja: quem acertou todas não tirou 1.000, e quem errou 100% das perguntas não ficou com zero. Por quê?
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que organiza e aplica o Enem, o que determina os “extremos” da nota é o grau de dificuldade das perguntas daquela edição.
“Quando a prova for composta por muitos itens fáceis, o máximo tenderá a ser mais baixo, e quando for formada por itens difíceis, o mínimo tenderá a ser mais alto”, diz o órgão, em documento de orientação aos participantes.
🚨 Mas, atenção: deixar uma questão em branco nunca é a melhor opção. O ideal é se preparar para o exame, para que, mesmo sem saber responder tudo, o a candidato apresente um desempenho “coerente”.
Como saber se fui bem?
Não há uma lógica ou metodologia única para determinar se o candidato foi bem ou não apenas com base na nota.
Por um lado, quando maior for a nota do candidato, melhor ele se saiu no exame. Assim, ele terá maior flexibilidade dentro do leque de opções dos programas, universidades e cursos.
Por outro, cada programa, curso e universidade tem notas de corte diferentes. Portanto, a nota de um candidato pode não ser o suficiente para o curso de história em uma universidade pública pelo Sisu, mas pode ser o suficiente para concorrer a uma bolsa do Prouni em uma instituição privada.
Assim, o candidato precisa levar em conta qual o seu objetivo pessoal, e as notas de corte atribuídas a cada curso.
Também por isso, o participante deve se manter atento aos processos seletivos durante o período de inscrição. Isso é importante porque programas como o Sisu apresenta notas de corte parciais diárias, que variam diariamente durante o período de inscrição.
Com isso, uma nota que era o suficiente para uma vaga durante o primeiro dia de inscrições pode ficar de fora da nota de corte no dia final. Entenda melhor como funcionam as notas parciais.
Redação do Enem ou ‘cover’ de Machado de Assis?